Estou numa cama de hospital.
Diferente de há cinco anos, estou bem, tranquila, com vários livros e o notebook
que a Renata me emprestou. Estava
precisando de um tempo, diminuir a correria, limpar a casa, cozinhar, fazer
compras e trabalhar. Pelo menos pensar assim consola. Sempre me lembro da crônica
do Rubem Braga em que fala que só estudaria a gramática quando estivesse na
cama de um hospital. Aqui estou eu. E nem assim me animo a estudar as normas da
língua patrão. Trouxe Neruda e mais
uns amigos Balzac e Flaubert, umas revistas.
Da janela, vejo apenas
árvores gigantes, sem nenhuma construção. Isso me acalma. Ontem me deu uma
vontade de um sorvete e desci de pijama no café, que é chique. Fui o centro das
atenções. E olha que meu pijama era comportado.
A animação veio com o Dr.
Alexandre... ai ai, eu poderia descrever um tratado sobre ele. Só preciso
estudar um pouco mais. Ele é lindo. Chegou com um sorriso aberto e já me
contaminou. Disse que veio em nome do Dr. Ramina (o bambambam da neuro). Pensei
comigo, esse veio completo, simpático e comunicativo. Só aparece uma vez por
dia, mas já anima. E me lembra o Barden. E pega no meu pé, literalmente.
Divido hoje o quarto com uma recém-operada.
Estou ajudando a cuidar dela, porque nem chamar a enfermeira ela consegue.
Quarto dia de internamento. É
domingo pela manhã. Comecei com tédio. Estou sozinha. As minhas visitas vieram
às 16h, no ápice do meu vazio. Acabou. São 20h e estou sozinha.
Vem um enfermeiro tirar minha
pressão. Eu quero algo salgado, por favor. Não tem como, está tudo fechado. Nem
um salzinho pra por embaixo da língua? Nada. Enquanto ele verifica os
batimentos, pensei numa pizza. Era isso que eu queria. Minha boca começou a
salivar. Olho para ele com a minha tradicional cara de cachorro pedinte. Hum,
você pode comer? Claro, estou aqui só para investigar a cabeça. Pede que eu
busco lá em baixo; você o tem o endereço? Não. Vou trazer aqui. Procurei na
internet e liguei. Esqueci que estou tomando muitos medicamentos e não consegui
ler a ordem do número de primeira. Gelei, pensei que ia acabar os créditos.
Falei que estava cansada do meu plantão, ela entendeu.
50 minutos depois veio a mais
desejada comida desse ano. Era a menor embalagem que eu já tinha visto de
pizza. O cheiro era maravilhoso. Depois de dias ao saber de doente com sopa sem
sal. Quando eu abri foi uma admiração tão estonteante quanto que se estivesse
diante uma obra de Picasso. Fiquei alguns minutos admirando e abrindo o
refrigerante. Tinha folha de manjericão fresco e um lindo tomate em rodas. Me
senti na Vila Mariano a em São Paulo.
Essa máquina de ressonância que
não vem. Já é terça-feira.
Dr. Javier Bardem aparece às 6h50. Mas como dormi melhor, só acordei às
5h30 com a enfermeira me enchendo e não consegui mais dormi, resolvi escrever.
Ele chegou e eu jogando as palavras para fora. Conversamos sobre tudo, do meu
caso é claro. Veio depois do almoço. Conversamos sobre a nossa profissão. Ele é
neurocirurgião. Voltou há pouco. Acho que faremos a biopsia quinta-feira.
Finalmente vou para casa. Chega de ficar sem lavar a louça e ir ao mercado. Virei
visitá-lo com frequência!
5 comentários:
Tainá, fiquei sabendo pelo pai do Nando que vc estava internada. Bom ler este relatório e saber que vc esta bem! vc tem algum celular pra contato, passa pra mim! Bj Alex
Oi querida, que bom que você gostou. Tenho o celular 8444 8808.
E as vibrações positivas continuam por aqui. Todos mandaram beijos: minha mãe, meu pai, meus irmãos e o Fagner :)
Beijo grande
Tainá, força... Pensa em quanto você vai 'rir' dessa situação, especialmente depois de publicar essa crônica!!! E, que crônica!!!! Senti uma vontade enorme de comer aquela pizza!!! Quero ver vários livros seus publicados!!!!
Bjooooo
hehehe então deu certo fazer o leito ficar com muita vontade.
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