31 de dez. de 2011

Em movimento



Pulo quadrados para não estragar as linhas.





1 de nov. de 2011

Reticências



O final-de-ano começou oficialmente.
Vê-se pelas ruas, lojas, mercados...
Frenéticas caminhando de um lado ao outro procurando realizar mil tarefas diárias, com a cabeça na semana entre o Natal e o Ano Novo. Aquela folguinha para descansar, viajar, rever a família.  Planos que não passam de utopia, sendo o dia de apenas 24h, e esquecemos que entre uma atividade e outra temos que nos alimentar, nos locomover, nos produzir (cabelo, unha, depilação). Ah! Ainda antes dessas datas temos que comprar roupas, presentes, utensílios novos para casa. Há famílias que decidem reformar a casa também, mais uma para acrescentar às tarefas de final de ano. O ano vai acabar ou o mundo vai acabar? Desespero total e... Pronto, chegou o Natal! Incrível, mas a aflição não vai embora, e família que é família sempre tem aquela briguinha básica de lavação de roupa, o tal “arranca rabos”. Acho que é devido ao estresse, no auge.
Na verdade, eu entro naquela porcentagem das que não se iludem, não criam expectativas, já são tachados como estraga prazeres da família e desaparecem no ar próximos as datas comemorativas. Desde meus quatro anos de idade passo dias terríveis nos meus aniversários, almoços de Natal, viradas de ano.
Meus pais sempre disputando para que eu ficasse em um Estado ou noutro. Nem pra morarem na mesma cidade! E eu sempre feliz pela metade.  Até lembro-me do melhor/pior presente da minha vida. Eu já tinha treze anos e procurava a casa do meu tio, neutro nessa briga. Quando cheguei em casa depois do almoço de natal, haviam duas bicicletas, uma cecizinha cor-de-rosa, com cestinha e tudo mais, e outra montain bike (amarela com pneus resistente o suficiente para fazer trilhas na serra: ). Uma dada pelo meu pai e a outra por minha mãe.
E agora? pensei comigo, terei de escolher entre um e outro. Meu sonho tinha virado pesadelo.
Talvez por isso, agora fazendo essa catarse, pressionada pela proximidade da data, que eu conheci o paraíso, pego a minha mochila e vou para a ilha mais distante do litoral paranaense, Superagüi (3h30 a distância de Paranaguá).  Lá tenho uma família de coração e uma Noite de Natal bem distante do agito urbano.    
As bicicletas? Nunca tive coragem de me desfazer nem de uma nem outra, acabou que esses tempos emprestei uma pra uma prima e outra pro meu irmão, e fiquei sem as duas quase ao mesmo tempo.
E que janeiro venha logo para ver a cidade tranquila, os ônibus vazios, e aquele ar de renovação nas casas da vizinhança.  


12 de out. de 2011

( )



Cadeira vazia
Madeira fria


Carolina Sartor & Fagner Carniel




4 de out. de 2011



Abra a porta
Sente-se no banco de areia
Perceba o rio lá dentro
Qual é o sentido que ele corre,
Lentamente?

Tire as sacolas do caminho
E ele fluirá
Pelo mundo a fora




20 de set. de 2011

16 de set. de 2011

Comida

Cadavérica não reagiu.






7 de set. de 2011

Coincidências e criatividade



Posso estar enganada, ser impressão registrada por escolhas habituais, mas fazendo uma média ao que recordo das peças de teatro, a maior inspiração dramatúrgica em cena é a vida nos bastidores. Assim como na literatura, sobre ler, escrever, suas frustrações, decepções. O cinema, um pouco dessa e daquela, adaptações, ainda não muito sobre ele mesmo.
Como eu tinha emprestado o filme predileto da amiga Manu, depois de uma aula sobre a riqueza artística nas imagens, diálogos, sexualidade-feminilidade, uma poesia em amplo sentido O Livro de Cabeceira foi digno de todo o preparo que fiz para ele, desliguei telefone, celular, avisei a todos que estaria concentrada e não queria interrupção. No final, revi várias cenas, duas três vezes, com prazer.
Hoje, dia frio (aliás, única capital do País fria e chuvosa no dia de hoje), tentei arrancar alguma amiga para o cinema. Depois de algumas tentativas, resolvi pegar um filme na locadora. Vai o Budapeste, que eu só sei que é inspirado na obra do Chico Buarque, de 2003, com o mesmo nome.  Mas qualquer coisa eu tiro um cochilo. Já li algo dele e apaguei da minha memória de lagartixa, não é o Chico que conheci, com suas Genis e seus Zepelins.
Estou sozinha em casa, mas tive a impressão de dar uma risada em voz alta quando, no início,  o escritor se imagina escrevendo na pele de sua musa. Na hora pensei em cópia. É uma coincidência digna de registro. Não dormi, pois não parava de comparar.
Quando acabou fui correndo nas caixas dos DVDs para analisar.
O primeiro, num Japão de 1970, a protagonista (encenado por Vivian Wu e dirigido por Peter Greenaway) se divide entre o Japão onde nasce e a China quando “se liberta” e conquista a produção editorial com suas poesias. Essa obra prima do cinema mundial foi lançada em 1996. 
Budapeste, lançado em 2009, se passa entre Brasil de frustrações e Hungria onde o protagonista desenvolve sua literatura. O detalhe na capa da caixa de DVD me surpreendeu como não vi lá na locadora, um corpo desnudo escrito como folha. Inspirado? É idêntico até na posição da câmera. Esta é a cena mais marcante no filme anterior, com a Nagiko desfrutando dos corpos masculinos com suas poesias, constante em todo o roteiro. Já no segundo, é apenas uma cena de passagem para a escrita de uma obra que o Costa está escrevendo.
Pode ter sido uma coincidência, e acredito que sou desenformada o suficiente para não ter lido a justificativa do filho de dicionários ter se inspirado mesmo.

Enfim, a vantagem de Curitiba é que é a única capital a ter um feriado extenso de quarta, quinta e sexta-feira. Fazendo uma média, saímos no lucro com esse tempinho.


19 de ago. de 2011

Reflexões em duas partes

Parte I - Mãos dadas

Depois de introspectiva, meditativa, às vésperas, na noite de eu completar 30 anos de vida, talvez por estar no “meio do mato” escrevendo com papel e caneta, ao lado do fogão a lenha, estou tranquila, calma, serena. E posso seguramente afirmar que tudo o que vivi até aqui valeu a pena. Pode parecer piegas, mas genuíno.
 A maior riqueza que trago na mochila da vida é os amigos. De todas as formas, de diferentes raízes, todos fazem parte da minha formação. Apontam-me para o espelho da vida, fazendo rir ou chorar, achar graça ou ridícula, mostrando-me como sou verdadeiramente.
Sem vocês, eu nada seria!

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro. 
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. 
Entre eles, considero a enorme realidade. 
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
     

Primeira estrofe, Mãos Dadas, de Drummond


Parte II – Serra Pelada

O otimismo ficou na minha reflexão pessoal sobre “o outro” e parou por aí. Fiquei contemplando a janela, entre os morros. A casa da minha avó fica na parte baixa, rodeada por eles. Em pleno inverno, um calor de deserto, com o ar seco, passarinhos desesperados na beira do rio ralo, com menos de dois centímetros de água suja.  Vó Madalena disse que nunca esperava ver “uns pássaros gigantes vindo até aqui comer laranja”. E eu pude testemunhar este fenômeno. Não sabemos que espécie é. E eu é natural não conhecer todos, mas com seus 80 anos morando ali, chocada com a mudança, me preocupa.
Trinta anos que frequento aquele vilarejo, conhecido por “Duas Antas”, e nunca vi tamanho desmatamento. Sempre houve para o plantio e cultivo. Exploração da terra. Mas algumas árvores permaneciam. Era visível. E agora a principal plantação é a de pinus, uma verdadeira praga para o solo. Com a promessa de que em cinco anos ficarão ricos pelas industrias, conseguiram a autorização do IBAMA para desmatar a natureza que restava. Especialistas dizem que será preciso trinta anos de cuidado permanente e adubo para que volte a nascer um verde onde houve o plantio da árvore norte-americana. O IBAMA é um tópico a parte em que eu escreveria um tratado para a extinção desse órgão dos mais corruptos do Brasil. Mas vou deixar para o próximo capítulo.  
Caminhamos até a cidade de Bocaiúva para as compras e as duas sempre estarrecidas pelo caminho. O famoso lago no morro mais alto da cidade, sem nenhuma árvore para protegê-lo, parece estar escrito que em breve irá desbarrancar morro abaixo levando a cidade inteira. Já aconteceu ano passado, de a água escorrer levando a escola que fica próxima. Demoraram dois meses para reformar o que foi destruído. Lá da cidade vimos a serra pelada. 
Que rio, lago, aguenta viver sem árvores?
E eu que pensava que o pior tinha passado, quando vinha no final de semana, depois das aulas sobre desmatamento (há mais de quinze anos) e considerava superada a ignorância ambiental. O pior ainda estava por vir. Já perdemos 93% da mata atlântica.
Depois de a Presidenta Dilma liberar o extermínio das comunidades do Xingu, não tenho muitas esperanças de um Código Florestal coerente com sua importância vital para todos os que na Terra habitam. A Marina Silva faz uma referência histórica sobre a abolição da escravatura no país, “quando parte dos produtores rurais bradava que sem os escravos o Brasil rural estaria falido e não haveria quem produzisse comida para nossas mesas.”.
Sonho, como já escrevi num roteiro de animação, que as Árvores Solitárias irão se revoltar e começar a destruir os asfaltos, carros, fios elétrico e retomar a vida na Terra.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, 
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. 
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, 
a vida presente.

Segunda estrofe, Mãos Dadas, de Drummond

12 de jul. de 2011

Domingo de sol


 Senti uma vontade de registrar o domingo. Senti vontade de gritar, senti vontade de publicar num grande jornal, senti vontade de invadir um filme no maior cinema da cidade pra dizer:

EU CONSEGUI ANDAR DE BICICLETA

Eu consegui! Pedalei, dei altas (três) voltas no parque.  Essa foi a maior conquista desde quatro anos, cinco meses e treze dias atrás, em que fiquei impossibilitada dos meus movimentos.
Quando subo e consigo pedalar, segurar o guidão, é como se estivesse pisando na lua. Estou treinando há dois anos e você, amigo leitor, precisava ver a comédia no conjunto em que a minha mãe mora há 35 anos. O pessoal todo se conhece e adora dar risada, principalmente, ao me verem sair com a mãe de um lado e as rodinhas de segurança dos dois lados da bike. Vai lá Tainá, que você consegue! Eu me divirto um pouco, porque tenho que me concentrar em cada lance de movimento.
Como é bom ser criança, pelo menos em alguns momentos, e sonhar, e colocar os sonhos em prática, por mais difíceis que pareçam. O coração acelera, a adrenalina corre solta e a semana tem outra motivação.

Abraço a todos que estão ao meu lado nessa caminhada!

Obrigada pela força e incentivo!
Tainá 

28 de jun. de 2011

Raízes – Paranaguá festejando o frio com tainha


É uma sensação de fortalecimento quando piso na cidade portuária mais antiga do Paraná. Além de ser um patrimônio histórico (mal preservado) do Estado, é uma referência familiar para mim. Lá ainda encontro viva a raça tupi na pele dos parnanguaras, nos trabalhos artesanais, na comida, nos ventos e movimentos.   
Num feriado-surpresa, em que o sol apareceu entre as nuvens e um calor tranquilo nos acompanhou, pudemos, eu, amigas e mami, pisar nas ruas históricas, com casarões desabando e, ainda assim, transparecendo relatos do nosso passado.
Fomos prestigiar o Artista e Cineasta Cyro Matoso no lançamento de seu mais recente filme O Filho que Fugiu do Inferno, e ainda aproveitamos a festa da tainha. Além de levar a amiga Yumi e minha mãe conhecerem o museu MAE, um espaço jesuítico doado para preservação da cultura caiçara. Todas receberam o presente de encontrar a exposição do Tyryetê Kaxinawa. Das quais me emocionaram. Obras inspiradas pela Amazônia verde-colorida. As lágrimas minhas se fizeram presentes no registro das cartas de crianças locais agradecendo pela marcante manifestação sobre a vida e seu oposto aniquilamento da natureza que o poeta e artista plástico perpetuou.
Caminhando ainda pelo museu, recordei um amor, exposto numa parede gigante pelos traços de Poty, que me representa particularmente o desejo em deixar de ser um segredo e tornar-se vivo no coração de quem vê e sente.
Encerrando o passeio, com o Cyro e sua câmera na garoa noturna, uma cena que ele registrou: um beijo cinematográfico entre as sombrinhas coloridas das amigas, e que esperamos sejam usadas para o seu próximo filme.
A natureza sempre nos presenteando, fez o tempo virar e assim descansarmos no dia de domingo, para a semana energizada eu, encolhida com pantufas, escrever estas linhas saudando pela vida manifestada em tantos sentidos quanto podemos perceber.


Tainá Pires
26-06-2011
Foto: Simone Giacomin

6 de jun. de 2011

Story-board Museu de Frutas e Verduras



Cena 01: Inicia-se com a imagem da entrada do Museu de História Natural, céu cinza, vento.

Áudio 01: Ventania.

Cena 02: No museu, a guia está apresentando às crianças a exposição.





Áudio 02: ... baixo, vozes titubeando.

Guia: Descrevendo um elemento, quase incompreensível. Essa é a fruta típica do que outono. Antigamente havia estações, divisões climáticas...

Cena 3: Aparecem as frutas extintas, conservadas artificialmente em caixas de vidro. E a expressão das crianças é de surpresa, boquiabertas.
Criança 1: (espantada) Nossa, mas isto então é a tal do mamão! Criança 2: Olha, como que pode ser alaranjado e preto...?!
Guia (apontando para a próxima fruta): Esta é a fruta da região das Américas Tropicais, popularmente conhecido como mamão, pertencente à família Caricaceae. Extinguiu-se em 2018, devido à ausência de chuvas e o calor excessivo na região onde vivia.


Cena 04: As crianças levantam as sobrancelhas. Algumas tiram e mandam fotos da fruta aos pais e amigos. Admiradas com as imagens. A guia continua andando, lentamente e apontando para a outra fruta.


Criança 1: Caraca! Maneiro! Essa eu vou falar para o meu velho. Guia: Vamos prestar mais atenção! A melancia, outra fruta extinta, também não resistiu a tempestades provocadas pela poluição de indústrias e automóveis. Outra causa para o seu desaparecimento foi o uso de agrotóxicos.
Áudio 03: barulho de máquina travando.

Cena 05: A Guia trava seus movimentos, e as crianças tentam fazê-la funcionar. Mexendo no botão de liga e desliga. Mas não conseguem religá-la.
Crianças: ihhhhh! Travou de volta, vou dar um reset.
Criança 1: Tenta um Control, Alt, Del!
Áudio 04: Som de botão emperrado (traque-traque).

Crianças: Aqui, assim, vai... não!
Criança 1: ahhh... não quer funcionar.
Criança 2: Vamos embora!
Criança 3: Droga!





Cena 6: Crianças colocando máscaras e saindo do Museu.


 Cena 7: A câmera em plano geral mostra as crianças saindo do museu já com as máscaras, rua cheia de lixos, bichos mortos, focaliza entre os lixos um jornal com a data: 2022.






Vozes em Fade out
Criança 1: Alguém sabe que dia é hoje?
Criança 2: Dia 20 de setembro!
Criança 1: Então amanhã é feriado!!!


Roteiro: Tainá Pires

Desenho: Rodrigo Belato

21 de mai. de 2011

Sem mais





"Se alguém te perguntar o que você quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo."

Mario Quintana

7 de mai. de 2011

Argentina estuda dar pensão a escritores‏


Por LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES 
A Argentina quer instituir uma pensão social para escritores. A ideia, inspirada em leis aprovadas na França e na Espanha, é defendida há anos por um grupo de escritores do país. 
A pressão é tanta que já são dois projetos --quase similares-- em trâmite no Senado. "Com a barriga vazia, o escritor não escreve", diz o poeta Miroslav Scheuba, coordenador da Sociedade Argentina de Escritores. "Como escritores são boêmios, não economizam e acabam sem nada", completa. 
A entidade já conseguiu aprovar o projeto em Buenos Aires, em 2009. São 100 escritores beneficiados, que recebem por mês 2.650 pesos --cerca de R$ 1.080. A prefeitura da cidade analisa atualmente o pedido de pensão de outros 30 autores.
Pelos cálculos do governo, no âmbito federal, seriam quase mil beneficiados. 
Os requisitos para o autor postular à pensão é não ter fonte de renda --ou tê-la menor que o valor da bolsa-escritor. É necessário ter mais de 60 anos, ter se dedicado mais de 20 anos à atividade literária ou publicado mais de cinco livros. Outro quesito essencial é morar há pelo menos 15 anos na Argentina. 
No final de abril, o deputado governista Carlos Heller apresentou um outro projeto com quase as mesmas propostas. A diferença é que a idade mínima para receber a pensão é de 65 anos, e o escritor necessita ter contribuído pelo menos 15 anos com a previdência. 
"A finalidade é dar uma retribuição e reparar as situações de injustiça e descuido", conta Heller. 
Em 2007 e 2008, respectivamente, morreram os escritores argentinos Ruth Fernández e José Luis Mangieri. Estavam em dificuldades e desamparados, dizem os defensores do projeto. 
Julio Cortázar e Jorge Luis Borges tiveram vida regrada. Em Paris, onde viveu, Cortázar trabalhou com traduções.
Borges chegou a fazer graça de sua situação financeira precária. Certa vez, ele comentou sobre um sapato usado que ganhou de presente da primeira mulher: "Não eram sapatos de segunda mão, eram sapatos de segundo pé". 


AP
Sem amparo do governo, o escritor argentino Jorge Luis Borges teve vida regrada
Sem amparo do governo, o escritor argentino Jorge Luis Borges teve vida regrada

VOZ CONTRÁRIA
Segundo os escritores engajados na causa, o governo aprova a ideia. Mas o projeto deve ser votado somente em outubro, depois das eleição presidencial. 
Contra o projeto, um dos principais nomes da literatura contemporânea da Argentina, Cesar Aira, diz: "Faz tempo que se discute isso por aqui. Sou contra". 
Aira comenta o caso do México, onde uma lei garante a qualquer pessoa maior de 18 anos, após escrever um livro, pensão vitalícia do Estado. "Não acredito que isso seja bom para a literatura."


1 de mai. de 2011

Tortas


Por Tainá Pires e Tatiana Yaguiu

Saímos de uma peça de palhaços na calçada da Reitoria, apaixonadas pelo Sarrafo. O que fazer numa sexta à noite?  Para onde ir? Nada como um bom e  velho bar. Velho não mais, porque a modernidade se instalou por lá.
Chegamos com uma sensação nova. Olhamos com uma cara de espantadas com as novidades.
Olha só, meninas vestidas num estilo “saído da casa da vovó”, carregando livros e andando pelo local estreito como se tivessem na passarela. Os livros, um adereço estiloso. Será mesmo necessário mostrar? Atingem algum resultado? O que será que procuravam? Lembramos da decoração de casas também estilosas, em que livros falsos, aqueles só de borda, deixam o ambiente mais inteligente. Uma das teorias é que os livros saíram das casas e começaram a se transformar em um novo acessório da moda ornamental ou quem sabe um novo adereço ‘pega rapaz’ contemporâneo.
Entre um olhar e outro, pegamos uma cerveja.
Um cara de blazer, alinhado e solitário. A cor clara da pele e do tecido estavam em harmonia, a calça social escura, sapato e óculos de grau, completavam o estilo: sozinho na porta do bar. Esse sim era uma das pessoas mais intrigantes, não sabemos dizer o que ele é ou na verdade quem ele queria ser com aquela roupa, com aquela postura altruísta/arrogante em frente ao um bar lotado. Mas quem há de saber, não é verdade? Talvez nem ele.
Olhamos uma à outra, e bebemos mais um gole.
Já achamos graça, porque transmitimos por pensamento “Nós estamos desatualizadas, ou o mundo está de ponta cabeça?”
Precisamos fazer render essa vinda ao bar!
Boa idéia,  disse Tati, pegando o bloquinho e a caneta.
Voltamos nossos olhares para uma roda. A roda das risadas. Mulheres emperiquitadas, fingem conversar algo interessante e riem alto, procurando o resultado, olhando para os lados, empinando as bundas para destacar suas qualidades.
Eu não aguentaria um bando numa roda que nem sequer me ouvem olhando nos olhos, falou uma das duas.
Nada como os bons tempos. Que saudades de quando não tinha aquele quadro luminoso da Marllboro, entre os quadros do Garrincha.
Olhamos saudosamente para o balcão, seus banquinhos altos e para nossa alegria vimos uma mulher “normal”, com o seu bebê de colo pedindo um bolinho de carne.
Procuramos os que jogavam aquela sinuca.
Não sei, mas acredito que foram expulsos dali.
Estávamos sentadas numa posição privilegiada. Porque podíamos olhar todos os lados. O ruim era que ficava sobre a nossa cabeça um telefone público, decorativo, de ficha. Bonito, mas não dava para ficar com a coluna ereta. Esteve sempre por lá, algumas das poucas coisas que não mudaram com o tempo.
O que nos surpreendeu foi quando apareceu um mulher com salto alto, de verniz, outra com corte e escova no cabelo digna de celebridade (essa expressão eu arrasei na contemporaneidade, hein Tati?) sentimos como se estivéssemos em um dos lugares mais badalados da cidade.
Achei mesmo, pela primeira vez, que estava em um lugar da moda, disse Tati.
Nesse mundo de transformação, outra coisa bizarra foi vista: John Lennon! Ou seria Jesus Cristo? Já não sabíamos quem ele era realmente... Até discutimos um instante.
Que loucura!
Será que bebemos demais?
Mas ele, apesar na camisa hippie, tem os olhos muito bonitos e poéticos, como se olhando para além do horizonte. Confesso agora. (voz de Tainá)
E o mais engraçado da noite foi descobrir que havia uma festa de aniversário sendo comemorada ali. Não percebemos se estavam cantando parabéns, mas sim um rapaz passando com um chapéu de aniversário. Passeava pelo bar sem se importar.  Ou talvez quisesse dizer: estou numa festa. Uma coisa não ficou clara nessa festa: será que tinha bolo?
Começamos a conversar com uns rapazes, aqueles que nos deram metade da mesa e que nós não sabíamos nem o nome deles até então.
Enquanto Tainá filosofava sobre alguma coisa que ninguém entendia, Tati olhava para um deles e voltava o olhar para o caderninho. Começamos a nos enturmar.
Ao descobrir que ele, o personagem que Tati registrava com rabisco, estava enrolando um palheiro, Tainá se animou.
Agora sim me sinto normal entre os semelhantes!, disse Tainá.
Naquela altura, as pessoas ao redor do bar já estavam olhando para o chão, para não tropeçar, e tudo ficou mais familiar para nós duas. Uma pena demorar tanto para se identificar, tivemos que nos despedir, correr para pegar o ônibus. 

26 de abr. de 2011

Momento



Ondas que refletem o dia como foi. Apesar do frio, há crianças jogando pedras na água da fonte, águas borbulhantes, elas parecem ir e vir. O relógio para enquanto uma criança corre atrasada pela grama translúcida, a transparente ilusão de se colocar lá fora, imaginando penumbras impenetráveis. Os adultos, pendendo para um lado, andam mais curvados e solitários na praça. É fim do dia.






Texto-composição, exercício da Oficina de Estética da Leitura, ministrada por Márcio Abreu.


Feita por cinco descrições de diferentes autores que participam da aula. Nela deveria conter uma certa linearidade.

23 de abr. de 2011

Leituras



Ainda não encontrei as obras que preciso para trabalhar. Então, estou aproveitando o sábado, tranquilo, cuidando da bicharada da vizinhança que viajou. E lendo Fazenda Modelo, do Chico Buarque de Holanda, me tocou muito, entre outras, a página que inicia o Ato 5.


Um tumor benigno que, localizado, é pedra filosofal que transforma o ouro chocolate, em qualquer coisa útil ou amável.

10 de abr. de 2011

Passarão, passarinho, passarinhada

Já pensou no que comem os passarinhos?


Aqui em casa em nosso quintalzinho só tem duas árvores, amorinha e araçá. Mas que vive o ano inteiro repleto de passarinhos.

São sabiás, andorinhas, bentevis, pardais, corruíras com raridade, e até as maritacas já deram o ar de sua graça por aqui.

Fiquei espantada quando vi que eles esperavam os meus cachorros saírem da área de risco para posarem sobre a ração. E isso acontece com freqüência.

Temos três cachorros, mas contabilizamos quatro na compra do mês, pela quantidade de pássaros que se alimentam aqui em casa.

Eles não são mais limitados a comerem grãos, frutas, como eu pensava. Agora, aderiram em sua alimentação à variedade composta de carnes.

Certo dia, ao andar no conjunto onde moro, vi um grupo de passarinhos disputando uma banana que estava no gramadinho, em frente a uma casa amarela e com árvore no quintalzinho. Como vi a dona da casa, aparecer na entrada comentei sobre a banana, admirada. E ela falou que no telhado de sua casa colocava água, que eles não tinham mais de onde beber, pois os rios e lagos haviam desaparecido com a evolução da cidade.

Falou, ainda, que vinham de onde era mata e que hoje virou plantação. Com venenos, as plantações verdes, hoje lembram apenas a dor no estômago, com gosto de remédio, para eles.

Contei sobre o meu quintal, que eles se alimentavam de ração, e ela disse que era devido à fome, no desespero, eles aprenderam até a abrir o lixo. Lixos, aliás, que se enchem de abelhas, vindas das regiões desmatadas. Elas também estão de mudança, e, na falta de flores, se contentam com a coca-cola das lixeiras, pois contêm açúcar. Um senhor que vem vender mel por aqui, disse que está procurando outro trabalho, pois as abelhas não querem mais fazer favo e nem estabelecer família na roça. Querem é viver na cidade grande, que tem emprego e comida!

Então, resolvi abrigar esses pobres coitados, que foram desabrigados de suas terras, seus trabalhos e que agora tentam a vida na cidade grande.

Coloquei duas bacias de água e comida no telhado. Num ponto em que eu tenho uma visão estratégica. Assim, eu posso me sentar e admirar a passarinhada, se revezando para mergulhar. Às vezes, se empurram num clima de “criançada na piscina”. E parece que eles pressentem quando a fruta está “artificial” demais, eles nem encostam o bico.

Domingo, eu tive uma surpresa triste e não sabia o que fazer. Minha gata subiu na área deles e capturou uma pomba-rola. Trouxe-o, ainda vivo, e tentou matá-lo na minha frente! talvez para eu parabenizá-la pela conquista. E eu rapidamente a espantei e peguei a pomba-rola na mão, para ver o estrago. Estava com o rombo, perto do pescoço.

Eu tive uma vontade de chorar, imaginando a dor que passarinha sentia.

Liguei para um veterinário, amigo meu. E ele disse que não havia o que fazer, pois pássaros são animais complexos e sensíveis demais. Era melhor dar para a gata terminar o serviço.

Coloquei-a numa caixinha de sapato, para não ficar voando e se esborrachando no chão. Pois ela estava sangrando, mas com um olhar firme, determinado a fugir. E eu fiquei feliz, porque era sinal de que estava forte e conseguiria viver, se cicatrizasse.

Passei aquele dia angustiada, pensando num analgésico, num curativo que o fizesse parar de sangrar. Não conseguia nem olhar para minha gata, que me pedia colo.

Segunda-feira, acordei às seis da manhã. Olhei dentro da caixinha e ela estava lá, querendo fugir. Ótima notícia! Oito horas da manhã, liguei para o IBAMA. Queria uma informação apenas, nem iria dar meu endereço, pois podiam me multar por ter um animal silvestre em cativeiro, pensei logo. Surpreendentemente, eles me informaram o telefone dos agentes do meio ambiente para socorrem os animais em perigo. Liguei, passei o endereço e a urgência: salvar uma ave! Nem falei a espécie, para não classificarem a importância na cadeia de extinção. Fiquei aliviada quando me falaram que logo pela manhã apareceriam em minha casa.

Hoje, sexta-feira, depois de uma longa espera, enterrei a pomba-rola. E pela janela vejo a passarada ainda a cantar. Destino natural, uma gata pegar um pássaro; destino natural eu continuar me encantando com suas peripécias.

 
Publicado no Jornal Literário da FCC

1 de abr. de 2011

Mundos seus


A menina de meias arco-iris estava encanada.
Nunca imaginado tão próximo o ser de Caymmi, que viaja em seus sonhos.
Já havia beijado professor, escritor, vagabundo (poeta), pintor, filosofo. Beijar era sua especialidade. E gostava de ampliar o currículo. Mas diante desse caso, ficou preocupada. Se encantou mesmo era pelos sonhos na beira-mar, um pescador.

15 de mar. de 2011

A Velha e o Mar

Informação importante= Últimas notícias: Ainda isolados quase todos os vilarejos do litoral do Paraná.

 PsiquiátricaPara controlar a lucidez, escrevo.

Tentando pisar em terra há três dias, nos intervalos, cheguei às seguintes reflexões:
1º Eu realmente tinha razão quando carregava dois, três livros na minha mochila. Eles fazem falta!
2º Nunca mais acharei supérfluo carregar biscoitos, frutas, cremes, roupas a mais (principalmente para frio).
3º Saudades é algo incontrolável quando a emoção está à flor da pele. (ainda não chorei para não me desidratar)
4º Eu sempre respeitei a natureza, a chuva, o sol, o clima. Mas confesso que, se pudesse, iria para o Nordeste e ficaria por lá ( : em Olinda : ) uns três meses me bronzeando para me recuperar deste tempinho paranaense.

Assim que obtiver mais pensamentos geniais e a internet pirata colaborar, volto a escrever.

Tainá, a futura pescadora

14 de mar. de 2011

Estou ilhada na Ilha

Vim sexta-feira pela manhã e a cada metro que andávamos até Paranaguá eu via a água tomar conta de tudo.
Para Superagui, vim no barco de Jacó, que fez um caminho diferente para evitar as ondas revoltas. Por quatro anos que venho, não conhecia o chamado Rio do Mar, uma baia entre ilhas. Foi tranqüilo e muito bonito olhar as casinhas, golfinhos e peixes voadores.
Agora está calor. E todos os barcos atracados, “Respeitamos a vontade do mar. Voltamos a pescar quando ele nos chamar.”
Hoje, segunda-feira, saiu apenas um barco com turistas. Os pescadores continuam respeitando a força do mar, e eu respeitando a eles. Até segundo aviso, vou ficando...

2 de mar. de 2011

Prazeres

Aglaja Veteranyi
Estou apaixonada pelo último livro que li. Sabe aquele prazer indescritível que sentimos em alguns momentos da vida? Quando deixa de ser um gesto habitual para se tornar único? Muitas vezes eu sentei com determinadas obras e criei este clímax, mas que de fato não aconteceu de verdade. Por algum motivo não rolou. Mesmo sentindo algum prazer, não foi completo. É como sexo. Geralmente é bom, mas poucos são inexplicavelmente inesquecíveis. Foi isso que senti a cada página de Por que a criança cozinha na polenta, da romena Aglaja Veteranyi. Fui lentamente virando as páginas, voltando e relendo. E quando acabou, aconteceu uma sensação de “Nossa! Que prazer! Mas, e agora, como irei viver sem você, Aglaja? Dá pra rolar a segunda? Pode ser uma rapidinha!”

Foi mais ou menos como o último grande prazer cinematográfico, que não consigo esquecer. Eu já assisti muitos filmes bons depois, mas nada se compara aO Escafandro e a Borboleta.

Sem chances de rolar outra obra da Aglaja. Até procurei. Tinha esperanças de encontrar algum texto de teatro, que era a área dela, mas nada. E o pior que ela já partiu desta para melhor em 2004 e nem viu a primeira publicação. Sem chances! E o autor do livro, que o meu filme preferido é inspirado, morreu logo depois de terminar a obra. Então, só me resta o diretor do O Escafandro, Julian Schnabel. Mas sou tão desinformada de seus trabalhos e de sua área que vou torcer para que a próxima vez que eu vá ao cinema me depare com um filme dele. 

E continuar procurando outros prazeres. No caso da literatura, o próximo da lista será O último leitor, do mexicano David Toscana.

Alguém aí tem uma recomendação orgástica? Ah! Que fique bem claro, de cinema, teatro ou literatura!
Tainá Pires

23 de fev. de 2011

Anabela
Bélicos

Se ela viu em mim
Pavio

Estourou camaleoa
Dilacerada

14 de fev. de 2011

Aproveitando a água que cai lá fora, trabalhei um pouco nestes versos que espero sejam lidos e enriquecidos

Aterrisei, encostada numa coluna
Na cobertura do museu
Visto toda a exposição
Esperava pela chuva escoar

Num janeiro tímido
Raciocinar, o convencional!

Porém nada sabiam
As crianças pulandeiras
Que rompiam os meus pensamentos,
correndo e mexendo na minha longa saia com as mãos
Desvendando um novo esconderijo
em suas ondas

Culpa dos pais, aguardando a calmaria

E ali, admirando a arte viva
Senti a melancolia
Entre lembranças de minha infância
E o desejo maternal

Um pequenino vem até mim
oferecer uma bala e um beijo

A vida imita a arte?
Raciocinar, não mais preciso!

1 de fev. de 2011

Até deseparecer, repetidamente

Decidiu deitar-se, mesmo com fome.
Dominada pelo cansaço, entregou-se a escuridão.