19 de ago. de 2011

Reflexões em duas partes

Parte I - Mãos dadas

Depois de introspectiva, meditativa, às vésperas, na noite de eu completar 30 anos de vida, talvez por estar no “meio do mato” escrevendo com papel e caneta, ao lado do fogão a lenha, estou tranquila, calma, serena. E posso seguramente afirmar que tudo o que vivi até aqui valeu a pena. Pode parecer piegas, mas genuíno.
 A maior riqueza que trago na mochila da vida é os amigos. De todas as formas, de diferentes raízes, todos fazem parte da minha formação. Apontam-me para o espelho da vida, fazendo rir ou chorar, achar graça ou ridícula, mostrando-me como sou verdadeiramente.
Sem vocês, eu nada seria!

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro. 
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. 
Entre eles, considero a enorme realidade. 
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
     

Primeira estrofe, Mãos Dadas, de Drummond


Parte II – Serra Pelada

O otimismo ficou na minha reflexão pessoal sobre “o outro” e parou por aí. Fiquei contemplando a janela, entre os morros. A casa da minha avó fica na parte baixa, rodeada por eles. Em pleno inverno, um calor de deserto, com o ar seco, passarinhos desesperados na beira do rio ralo, com menos de dois centímetros de água suja.  Vó Madalena disse que nunca esperava ver “uns pássaros gigantes vindo até aqui comer laranja”. E eu pude testemunhar este fenômeno. Não sabemos que espécie é. E eu é natural não conhecer todos, mas com seus 80 anos morando ali, chocada com a mudança, me preocupa.
Trinta anos que frequento aquele vilarejo, conhecido por “Duas Antas”, e nunca vi tamanho desmatamento. Sempre houve para o plantio e cultivo. Exploração da terra. Mas algumas árvores permaneciam. Era visível. E agora a principal plantação é a de pinus, uma verdadeira praga para o solo. Com a promessa de que em cinco anos ficarão ricos pelas industrias, conseguiram a autorização do IBAMA para desmatar a natureza que restava. Especialistas dizem que será preciso trinta anos de cuidado permanente e adubo para que volte a nascer um verde onde houve o plantio da árvore norte-americana. O IBAMA é um tópico a parte em que eu escreveria um tratado para a extinção desse órgão dos mais corruptos do Brasil. Mas vou deixar para o próximo capítulo.  
Caminhamos até a cidade de Bocaiúva para as compras e as duas sempre estarrecidas pelo caminho. O famoso lago no morro mais alto da cidade, sem nenhuma árvore para protegê-lo, parece estar escrito que em breve irá desbarrancar morro abaixo levando a cidade inteira. Já aconteceu ano passado, de a água escorrer levando a escola que fica próxima. Demoraram dois meses para reformar o que foi destruído. Lá da cidade vimos a serra pelada. 
Que rio, lago, aguenta viver sem árvores?
E eu que pensava que o pior tinha passado, quando vinha no final de semana, depois das aulas sobre desmatamento (há mais de quinze anos) e considerava superada a ignorância ambiental. O pior ainda estava por vir. Já perdemos 93% da mata atlântica.
Depois de a Presidenta Dilma liberar o extermínio das comunidades do Xingu, não tenho muitas esperanças de um Código Florestal coerente com sua importância vital para todos os que na Terra habitam. A Marina Silva faz uma referência histórica sobre a abolição da escravatura no país, “quando parte dos produtores rurais bradava que sem os escravos o Brasil rural estaria falido e não haveria quem produzisse comida para nossas mesas.”.
Sonho, como já escrevi num roteiro de animação, que as Árvores Solitárias irão se revoltar e começar a destruir os asfaltos, carros, fios elétrico e retomar a vida na Terra.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, 
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. 
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, 
a vida presente.

Segunda estrofe, Mãos Dadas, de Drummond