26 de abr. de 2011

Momento



Ondas que refletem o dia como foi. Apesar do frio, há crianças jogando pedras na água da fonte, águas borbulhantes, elas parecem ir e vir. O relógio para enquanto uma criança corre atrasada pela grama translúcida, a transparente ilusão de se colocar lá fora, imaginando penumbras impenetráveis. Os adultos, pendendo para um lado, andam mais curvados e solitários na praça. É fim do dia.






Texto-composição, exercício da Oficina de Estética da Leitura, ministrada por Márcio Abreu.


Feita por cinco descrições de diferentes autores que participam da aula. Nela deveria conter uma certa linearidade.

23 de abr. de 2011

Leituras



Ainda não encontrei as obras que preciso para trabalhar. Então, estou aproveitando o sábado, tranquilo, cuidando da bicharada da vizinhança que viajou. E lendo Fazenda Modelo, do Chico Buarque de Holanda, me tocou muito, entre outras, a página que inicia o Ato 5.


Um tumor benigno que, localizado, é pedra filosofal que transforma o ouro chocolate, em qualquer coisa útil ou amável.

10 de abr. de 2011

Passarão, passarinho, passarinhada

Já pensou no que comem os passarinhos?


Aqui em casa em nosso quintalzinho só tem duas árvores, amorinha e araçá. Mas que vive o ano inteiro repleto de passarinhos.

São sabiás, andorinhas, bentevis, pardais, corruíras com raridade, e até as maritacas já deram o ar de sua graça por aqui.

Fiquei espantada quando vi que eles esperavam os meus cachorros saírem da área de risco para posarem sobre a ração. E isso acontece com freqüência.

Temos três cachorros, mas contabilizamos quatro na compra do mês, pela quantidade de pássaros que se alimentam aqui em casa.

Eles não são mais limitados a comerem grãos, frutas, como eu pensava. Agora, aderiram em sua alimentação à variedade composta de carnes.

Certo dia, ao andar no conjunto onde moro, vi um grupo de passarinhos disputando uma banana que estava no gramadinho, em frente a uma casa amarela e com árvore no quintalzinho. Como vi a dona da casa, aparecer na entrada comentei sobre a banana, admirada. E ela falou que no telhado de sua casa colocava água, que eles não tinham mais de onde beber, pois os rios e lagos haviam desaparecido com a evolução da cidade.

Falou, ainda, que vinham de onde era mata e que hoje virou plantação. Com venenos, as plantações verdes, hoje lembram apenas a dor no estômago, com gosto de remédio, para eles.

Contei sobre o meu quintal, que eles se alimentavam de ração, e ela disse que era devido à fome, no desespero, eles aprenderam até a abrir o lixo. Lixos, aliás, que se enchem de abelhas, vindas das regiões desmatadas. Elas também estão de mudança, e, na falta de flores, se contentam com a coca-cola das lixeiras, pois contêm açúcar. Um senhor que vem vender mel por aqui, disse que está procurando outro trabalho, pois as abelhas não querem mais fazer favo e nem estabelecer família na roça. Querem é viver na cidade grande, que tem emprego e comida!

Então, resolvi abrigar esses pobres coitados, que foram desabrigados de suas terras, seus trabalhos e que agora tentam a vida na cidade grande.

Coloquei duas bacias de água e comida no telhado. Num ponto em que eu tenho uma visão estratégica. Assim, eu posso me sentar e admirar a passarinhada, se revezando para mergulhar. Às vezes, se empurram num clima de “criançada na piscina”. E parece que eles pressentem quando a fruta está “artificial” demais, eles nem encostam o bico.

Domingo, eu tive uma surpresa triste e não sabia o que fazer. Minha gata subiu na área deles e capturou uma pomba-rola. Trouxe-o, ainda vivo, e tentou matá-lo na minha frente! talvez para eu parabenizá-la pela conquista. E eu rapidamente a espantei e peguei a pomba-rola na mão, para ver o estrago. Estava com o rombo, perto do pescoço.

Eu tive uma vontade de chorar, imaginando a dor que passarinha sentia.

Liguei para um veterinário, amigo meu. E ele disse que não havia o que fazer, pois pássaros são animais complexos e sensíveis demais. Era melhor dar para a gata terminar o serviço.

Coloquei-a numa caixinha de sapato, para não ficar voando e se esborrachando no chão. Pois ela estava sangrando, mas com um olhar firme, determinado a fugir. E eu fiquei feliz, porque era sinal de que estava forte e conseguiria viver, se cicatrizasse.

Passei aquele dia angustiada, pensando num analgésico, num curativo que o fizesse parar de sangrar. Não conseguia nem olhar para minha gata, que me pedia colo.

Segunda-feira, acordei às seis da manhã. Olhei dentro da caixinha e ela estava lá, querendo fugir. Ótima notícia! Oito horas da manhã, liguei para o IBAMA. Queria uma informação apenas, nem iria dar meu endereço, pois podiam me multar por ter um animal silvestre em cativeiro, pensei logo. Surpreendentemente, eles me informaram o telefone dos agentes do meio ambiente para socorrem os animais em perigo. Liguei, passei o endereço e a urgência: salvar uma ave! Nem falei a espécie, para não classificarem a importância na cadeia de extinção. Fiquei aliviada quando me falaram que logo pela manhã apareceriam em minha casa.

Hoje, sexta-feira, depois de uma longa espera, enterrei a pomba-rola. E pela janela vejo a passarada ainda a cantar. Destino natural, uma gata pegar um pássaro; destino natural eu continuar me encantando com suas peripécias.

 
Publicado no Jornal Literário da FCC

1 de abr. de 2011

Mundos seus


A menina de meias arco-iris estava encanada.
Nunca imaginado tão próximo o ser de Caymmi, que viaja em seus sonhos.
Já havia beijado professor, escritor, vagabundo (poeta), pintor, filosofo. Beijar era sua especialidade. E gostava de ampliar o currículo. Mas diante desse caso, ficou preocupada. Se encantou mesmo era pelos sonhos na beira-mar, um pescador.