16 de out. de 2010

As narrativas curtas da nova literatura nacional divididas em cinco grandes vertentes

Pensando estruturalmente no trabalho da escrita, a leitura do Rascunho contribui para ampliar as possibilidades da forma.

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Disse, de início, que o conto tem sido o gênero de destaque em nossa literatura. Observo, nesse sentido, cinco vertentes principais do conto brasileiro do séc. 21: 1) a da violência ou brutalidade no espaço público e urbano; 2) a das relações privadas, na família ou no trabalho, em que aparecem indivíduos com valores degradados, com perversões e não raro em situações também de extrema violência, física ou psicológica; 3) a das narrativas fantásticas, na melhor tradição do realismo fantástico hispano-americano, às quais se podem juntar as de ficção científica e as de teor místico/macabro; 4) a dos relatos rurais, ainda em diálogo com a tradição regionalista; 5) a das obras metaficcionais ou de inspiração pós-moderna. O que une todas essas vertentes é o olhar cruel e irônico sobre as situações configuradas. O olhar cruel sobre a existência que os nossos melhores contistas herdaram de Machado de Assis.

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Rinaldo de Fernandes

Críticas e Resenhas
Rascunho
http://rascunho.rpc.com.br/

14 de out. de 2010

Nós:os exêntricos idiotas

Hoje vou deixar a Literatura para o conto da escritora carioca.

Não estou conseguindo escrever. Não sei qual é o problema. Se é por ter ido há Bienal, visto tantos livros, em tão grande espaço, e me sentido uma formiga incapaz de aceitar a tarefa trabalhosa. Se é pelo fato de a Mel ter deixado a Terra, e eu tão sozinha nesse espaço urbano e sem natureza. Se é por eu ter esperado discutir nosso trabalho com as colegas de literatura, e elas estarem na praia se divertindo.

Semana passada eu ouvi Ana Paula Maia, que eu ainda não conhecia, contar de sua carreira, sua dificuldade em publicar e a simplicidade em assumir o trabalho solitário. Valeu a pena assistir a mesa redonda (fiquei até o final). Sai do Paço com uma sensação de leveza.

Espero um dia atrair leitores como ela, é carioca exótica que prefere um cinema, a uma praia.


http://nososexcentricosidiotas.blogspot.com/

8 de out. de 2010

Os últimos oito reais da humanidade

Nesta segunda, eu ia viajar, como cheguei cedo à rodoviária, decidi passar na Bienal do Livro rapidinho. Demorou até que achei aquele lugar. Vi dois seguranças na porta e fui entrar, eles barraram meu caminho, perguntaram se eu era professor ou o que eles chamaram de "profissional do livro". Não, respondi. Então tem que passar na bilheteria, rebateram os seguranças. Sempre gostei de pensar que minha religião é o humanismo, me agrada imaginar que as pessoas podem ser melhores, que como seres humanos, sentimos algum tipo de solidariedade, e queremos um mundo melhor para todos. Mas em vista dos últimos eventos, o Tiririca como deputado Federal mais votado, imbatíveis um milhão e 300 mil votos, haja Florentina para esse povo. Povo que agora tem como opção para presidente um tucano e uma ignorante, se você ainda não viu a Dilma falando de livros no youtube, está desperdiçando sua vida, não perca mais tempo, corra, vá ao site agora mesmo e faça uma busca "Dilma livro". Isso sem falar da busca "Dilma meio ambiente". Se a humanidade ainda tem alguma coisa boa, é essa capacidade de nos surpreender com vídeos de um minuto. É inacreditável a capacidade humana. Pois, falando nisso, me deixe voltar ao assunto. Como me acreditava um humanista, fui na direção indicada pelos seguranças, imaginando ser uma mera formalidade, para ter um controle estatístico dos visitantes da feira, ou qualquer coisa assim. A gente nunca sabe o que esperar. Levantei meus olhos, sim porque como humanista gosto de olhar para as pessoas, nos olhos se possível, e nesse momento eu olhava para a moça do outro lado da bilheteria, foi então que fitei a tabela de preços, sim isso mesmo, tabela de preços, e repito, era uma tabela de preços. E essa tabela de preços estava logo acima da moça da bilheteria. Impactado pela descoberta, demorei até que consegui perceber que eu, como um ser mundano, já que não tinha nenhum documento comprobatório me atestando como professor, ou "profissional do livro", ou sei lá mais o que, deveria me desfazer de simbólicos oitos reais para poder dar uma passadinha na Bienal do Livro de Curitiba. Bem ali, diante da moça, ela que ficava logo abaixo da tabela de preços, percebi que eu perdia meus últimos oito reais de humanidade, porque com a fé que tinha, não podia ser humanista, mas sim ingênuo. Estou ainda pensando no discurso hipócrita de que o brasileiro é um povo que não lê, para mim ainda é estranho pensar em pagar oito reais para ver, sim só ver, e quem sabe eu não me interessava por algum livro, ou não encontrava algum "profissional do livro" lá dentro. Meu resto de inocência me faz crer que possam ser os escritores, e não os vendedores e donos de editora. Vou agora rever o vídeo da busca "Dilma livro", talvez ela esteja certa. Nunca se sabe.

Rodrigo Araujo