11 de dez. de 2012

Relatório de Internamento





Estou numa cama de hospital. Diferente de há cinco anos, estou bem, tranquila, com vários livros e o notebook que a Renata me emprestou.  Estava precisando de um tempo, diminuir a correria, limpar a casa, cozinhar, fazer compras e trabalhar. Pelo menos pensar assim consola. Sempre me lembro da crônica do Rubem Braga em que fala que só estudaria a gramática quando estivesse na cama de um hospital. Aqui estou eu. E nem assim me animo a estudar as normas da língua patrão. Trouxe Neruda e mais uns amigos Balzac e Flaubert, umas revistas.
Da janela, vejo apenas árvores gigantes, sem nenhuma construção. Isso me acalma. Ontem me deu uma vontade de um sorvete e desci de pijama no café, que é chique. Fui o centro das atenções. E olha que meu pijama era comportado.
A animação veio com o Dr. Alexandre... ai ai, eu poderia descrever um tratado sobre ele. Só preciso estudar um pouco mais. Ele é lindo. Chegou com um sorriso aberto e já me contaminou. Disse que veio em nome do Dr. Ramina (o bambambam da neuro). Pensei comigo, esse veio completo, simpático e comunicativo. Só aparece uma vez por dia, mas já anima. E me lembra o Barden. E pega no meu pé, literalmente.

Divido hoje o quarto com uma recém-operada. Estou ajudando a cuidar dela, porque nem chamar a enfermeira ela consegue.

Quarto dia de internamento. É domingo pela manhã. Comecei com tédio. Estou sozinha. As minhas visitas vieram às 16h, no ápice do meu vazio. Acabou. São 20h e estou sozinha.
Vem um enfermeiro tirar minha pressão. Eu quero algo salgado, por favor. Não tem como, está tudo fechado. Nem um salzinho pra por embaixo da língua? Nada. Enquanto ele verifica os batimentos, pensei numa pizza. Era isso que eu queria. Minha boca começou a salivar. Olho para ele com a minha tradicional cara de cachorro pedinte. Hum, você pode comer? Claro, estou aqui só para investigar a cabeça. Pede que eu busco lá em baixo; você o tem o endereço? Não. Vou trazer aqui. Procurei na internet e liguei. Esqueci que estou tomando muitos medicamentos e não consegui ler a ordem do número de primeira. Gelei, pensei que ia acabar os créditos. Falei que estava cansada do meu plantão, ela entendeu.
50 minutos depois veio a mais desejada comida desse ano. Era a menor embalagem que eu já tinha visto de pizza. O cheiro era maravilhoso. Depois de dias ao saber de doente com sopa sem sal. Quando eu abri foi uma admiração tão estonteante quanto que se estivesse diante uma obra de Picasso. Fiquei alguns minutos admirando e abrindo o refrigerante. Tinha folha de manjericão fresco e um lindo tomate em rodas. Me senti na Vila Mariano a em São Paulo.

Essa máquina de ressonância que não vem. Já é terça-feira.
Dr. Javier Bardem aparece às 6h50. Mas como dormi melhor, só acordei às 5h30 com a enfermeira me enchendo e não consegui mais dormi, resolvi escrever. Ele chegou e eu jogando as palavras para fora. Conversamos sobre tudo, do meu caso é claro. Veio depois do almoço. Conversamos sobre a nossa profissão. Ele é neurocirurgião. Voltou há pouco. Acho que faremos a biopsia quinta-feira. Finalmente vou para casa. Chega de ficar sem lavar a louça e ir ao mercado. Virei visitá-lo com frequência! 


5 comentários:

Vilma Ribeiro disse...

Tainá, fiquei sabendo pelo pai do Nando que vc estava internada. Bom ler este relatório e saber que vc esta bem! vc tem algum celular pra contato, passa pra mim! Bj Alex

Unknown disse...

Oi querida, que bom que você gostou. Tenho o celular 8444 8808.

Carolina disse...

E as vibrações positivas continuam por aqui. Todos mandaram beijos: minha mãe, meu pai, meus irmãos e o Fagner :)
Beijo grande

Kenedy disse...

Tainá, força... Pensa em quanto você vai 'rir' dessa situação, especialmente depois de publicar essa crônica!!! E, que crônica!!!! Senti uma vontade enorme de comer aquela pizza!!! Quero ver vários livros seus publicados!!!!

Bjooooo

Unknown disse...

hehehe então deu certo fazer o leito ficar com muita vontade.