Posso estar enganada, ser impressão registrada por escolhas habituais, mas fazendo uma média ao que recordo das peças de teatro, a maior inspiração dramatúrgica em cena é a vida nos bastidores. Assim como na literatura, sobre ler, escrever, suas frustrações, decepções. O cinema, um pouco dessa e daquela, adaptações, ainda não muito sobre ele mesmo.
Como eu tinha emprestado o filme predileto da amiga Manu, depois de uma aula sobre a riqueza artística nas imagens, diálogos, sexualidade-feminilidade, uma poesia em amplo sentido O Livro de Cabeceira foi digno de todo o preparo que fiz para ele, desliguei telefone, celular, avisei a todos que estaria concentrada e não queria interrupção. No final, revi várias cenas, duas três vezes, com prazer.
Hoje, dia frio (aliás, única capital do País fria e chuvosa no dia de hoje), tentei arrancar alguma amiga para o cinema. Depois de algumas tentativas, resolvi pegar um filme na locadora. Vai o Budapeste, que eu só sei que é inspirado na obra do Chico Buarque, de 2003, com o mesmo nome. Mas qualquer coisa eu tiro um cochilo. Já li algo dele e apaguei da minha memória de lagartixa, não é o Chico que conheci, com suas Genis e seus Zepelins.
Estou sozinha em casa, mas tive a impressão de dar uma risada em voz alta quando, no início, o escritor se imagina escrevendo na pele de sua musa. Na hora pensei em cópia. É uma coincidência digna de registro. Não dormi, pois não parava de comparar.
Quando acabou fui correndo nas caixas dos DVDs para analisar.
O primeiro, num Japão de 1970, a protagonista (encenado por Vivian Wu e dirigido por Peter Greenaway) se divide entre o Japão onde nasce e a China quando “se liberta” e conquista a produção editorial com suas poesias. Essa obra prima do cinema mundial foi lançada em 1996.
Budapeste, lançado em 2009, se passa entre Brasil de frustrações e Hungria onde o protagonista desenvolve sua literatura. O detalhe na capa da caixa de DVD me surpreendeu como não vi lá na locadora, um corpo desnudo escrito como folha. Inspirado? É idêntico até na posição da câmera. Esta é a cena mais marcante no filme anterior, com a Nagiko desfrutando dos corpos masculinos com suas poesias, constante em todo o roteiro. Já no segundo, é apenas uma cena de passagem para a escrita de uma obra que o Costa está escrevendo.
Pode ter sido uma coincidência, e acredito que sou desenformada o suficiente para não ter lido a justificativa do filho de dicionários ter se inspirado mesmo.
Enfim, a vantagem de Curitiba é que é a única capital a ter um feriado extenso de quarta, quinta e sexta-feira. Fazendo uma média, saímos no lucro com esse tempinho.
4 comentários:
Só pra dizer q o Chico, lindo, não é filho do Aurélio!!! hahaahaha ;)
E não há nada no mundo de hoje que seja realmente original...
beijos
O Chico escritor deveria ter devolvido o prêmio Jabuti ano passado, ganho na primeira etapa pelo Edney Silvestre. Ganhou no tapetão, na tramóia das editoras, no nome que carrega como músico.
O Chico escritor não é uma boa referencia.
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/835166-internautas-pedem-que-chico-buarque-devolva-premio-jabuti.shtml
bjo
Pensei nisso também, em como vale a fama para ser lido. Há vários exemplos contrários de que um grande escritor pode morrer no esquecimento, na miséria social.
Conheço alguns cineastas que vendem o pão para pagar as cenas-artes sonhadas. O Chico, ao contrário, pode gravar com os pés nas costas em qualquer lugar do mundo.
Ah! Yumi, você conhece a piada, né? rsrsrs
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