1 de mai. de 2010

Cores da infância

Quando criança, era hábito minha mãe e eu visitarmos minha tia Quico, a mãe do meu primo que eu mais brincava, como irmão! ou até mais, porque não brigávamos. Jeime era três anos mais velho que eu e já viajava pelo bairro, Água Verde. O que, para mim, era uma aventura valiosa, uma sensação de liberdade.
É claro que nossas saídas eram lógicas e precisas. Na época em que realizava as façanhas, tinha uns cinco anos e só sentia adrenalina nas caminhadas. Estava na companhia de um da minha espécie, uma criança, e isso era o mais fascinante. Íamos à panificadora, comprar pão. E, quando estávamos em férias (eu fazia pré-escola), eu passava alguns dias em sua casa. Ficávamos a manhã e a tarde brincando no condomínio do prédio, jogando futebol, mãe-se-esconde, dominó... E no fim da tarde, andávamos alguns quarteirões até o trabalho da minha tia. Chegávamos até um parquinho, que ficava em frente ao prédio onde ela trabalhava, e brincávamos mais um pouco até a sua saída.
Era triste para nós dois, que tínhamos nos divertido o dia inteiro, ouvir sobre as torturas, que aconteciam por lá...
Há tempos eu não tinha esta nostalgia!
Passaram-se duas décadas, e eu comecei a desvendar a Vila Izabel, onde eu me instalei, à procura de um lugar, para ler, sentir a brisa e o verão. Comecei a caminhar pela região em torno da Candido Xavier.
Ali perto, achei um banco, embaixo de uma árvore, em uma praça, com um campinho de basquete. Mas o que mais me atraia o olhar era um prédio antigo, com muitas cores.
Fiquei admirando a construção, que de alguma forma me lembrava livros. Talvez, porque pareça um pouco uma imensa prateleira, e os quadrados coloridos de diversos tamanhos como livros empilhados.
Com o clima na leitura do espaço, a imagem(ação) fui ainda mais longe. Aquele lugar me lembrava a infância, com menor proporção, mas pelas ruas que caminhava, como que desvendando o universo, de mãos dadas com um irmão.
Veio a lembrança daqueles momentos... Fixei minha visão na convergência das ruas, que ali se cruzavam, e consegui rememorar nós dois caminhando ao salvamento de minha tia.
Voltei o olhar ao prédio, e a mim, imaginando a possibilidade de também mudar aquele ponto de vista, por dentro, colorindo o pensamento pessoas que trabalham por lá.


Curitiba, 17/01/2010

5 comentários:

Unknown disse...

Amiga,que mensagem grandiosa me passou este texto tão bem escrito!
Reviva,pense,e transmita algo bom!
Mil Vivas.
Marcia cordeiro

Unknown disse...

Fico feliz pela leitura!!!

Colibri disse...

Tainá,

Está linddo! Vocé poderia passar este texto para o outro blog também né?

Robinson Klaesius disse...

Excelente texto. Essas palavras fizeram lembrar minha infância.
Faço um comentário sobre "as torturas", e o "salvamento da tia". Creio que seja preciso detalhar quais torturas e a quem, e de que ou quem poderia ser salva a tia Quico.

Unknown disse...

Robinson,

Muito obrigada pela leitura e observação.
Reli agora e senti alguns vácuos que posso trabalhar mais.
Valeu!