Quando criança, era hábito minha mãe e eu visitarmos minha tia Quico, a mãe do meu primo que eu mais brincava, como irmão! ou até mais, porque não brigávamos. Jeime era três anos mais velho que eu e já viajava pelo bairro, Água Verde. O que, para mim, era uma aventura valiosa, uma sensação de liberdade.
É claro que nossas saídas eram lógicas e precisas. Na época em que realizava as façanhas, tinha uns cinco anos e só sentia adrenalina nas caminhadas. Estava na companhia de um da minha espécie, uma criança, e isso era o mais fascinante. Íamos à panificadora, comprar pão. E, quando estávamos em férias (eu fazia pré-escola), eu passava alguns dias em sua casa. Ficávamos a manhã e a tarde brincando no condomínio do prédio, jogando futebol, mãe-se-esconde, dominó... E no fim da tarde, andávamos alguns quarteirões até o trabalho da minha tia. Chegávamos até um parquinho, que ficava em frente ao prédio onde ela trabalhava, e brincávamos mais um pouco até a sua saída.
Era triste para nós dois, que tínhamos nos divertido o dia inteiro, ouvir sobre as torturas, que aconteciam por lá...
Há tempos eu não tinha esta nostalgia!
Passaram-se duas décadas, e eu comecei a desvendar a Vila Izabel, onde eu me instalei, à procura de um lugar, para ler, sentir a brisa e o verão. Comecei a caminhar pela região em torno da Candido Xavier.
Ali perto, achei um banco, embaixo de uma árvore, em uma praça, com um campinho de basquete. Mas o que mais me atraia o olhar era um prédio antigo, com muitas cores.
Fiquei admirando a construção, que de alguma forma me lembrava livros. Talvez, porque pareça um pouco uma imensa prateleira, e os quadrados coloridos de diversos tamanhos como livros empilhados.
Com o clima na leitura do espaço, a imagem(ação) fui ainda mais longe. Aquele lugar me lembrava a infância, com menor proporção, mas pelas ruas que caminhava, como que desvendando o universo, de mãos dadas com um irmão.
Veio a lembrança daqueles momentos... Fixei minha visão na convergência das ruas, que ali se cruzavam, e consegui rememorar nós dois caminhando ao salvamento de minha tia.
Voltei o olhar ao prédio, e a mim, imaginando a possibilidade de também mudar aquele ponto de vista, por dentro, colorindo o pensamento pessoas que trabalham por lá.
Curitiba, 17/01/2010